Reflexão pastoral de Natal e Ano Novo
Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus!
“Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é Cristo, o Senhor” Lucas 2:11
Celebramos nessa data o mistério do natal do Senhor. A mística dessa festa litúrgica está carregada não só de sentido religioso, mas também humano.
Ao estabelecer uma data para celebrarmos o nascimento de Cristo, a igreja não está afirmando que ele nasceu exatamente em 25 de dezembro, mas sim, que nesse dia escolhido, celebramos o mistério divino manifestado por Deus em prol da humanidade. Para todos nós cristãos, viver e celebrar a nossa fé, significa reconhecer que o tempo de Deus é de graça, e sua eternidade não cabe nos limites dos nossos prazos cronológicos.
Em todas as culturas ocidentais, o nascimento de uma criança é um acontecimento muito significativo. É o início de uma nova vida, a continuidade de uma família, a celebração do recomeço do ciclo, o refazimento da esperança [...] Não por coincidência, nós celebramos o natal ao final do ano, próximo da festa de ano novo.
Do ponto de vista do significado cristão, Jesus nasce na diáspora, em Belém da Judeia, região que atualmente é território palestino. A bíblia fala que Maria e José precisaram sair de Nazaré, para cumprir os seus deveres civis, após serem convocados para o recenseamento. Não havia hospedaria para acolhê-los e a família precisou se alojar em um estábulo.
O evangelista Lucas é muito preciso nos detalhes da narrativa. Provavelmente, por conta da sua amizade com Maria, mãe de Jesus. Ouviu dela o próprio relato e transcreveu em seu livro.
O filho de Deus nasce despojado de glórias e honrarias, porém, o texto sagrado destaca a presença dos reis magos (Balthasar, Gaspar e Melchior), astrólogos, vindos da região da Pérsia, atual Irã (segundo o historiador grego Heródoto e confirmado por São Beda, O Venerável).
Guiados por um astro de luz e pela profecia de Miqueias 5:2, os magos rumaram para Belém. O profeta, havia predito há 700 anos antes de Cristo, que o Messias nasceria em Belém (de Éfrata):
“E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me saíra o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. Portanto, o Senhor os entregará até ao tempo em que a que está em dores tiver dado à luz; então, o restante de seus irmãos voltará aos filhos de Israel.
Ele se manterá firme e apascentará o povo na força do Senhor, na majestade do nome do Senhor seu Deus; e eles habitarão seguros, porque agora será ele
engrandecido até aos confins da terra. Este será a nossa paz.”
Miqueias se alegrou, como humilde cidadão, com a revelação de que o Cristo nasceria numa cidade semelhante à sua. A revelação confirmou ainda que o menino seria o próprio Filho de Deus. Como Isaías, viu o futuro Messias. Como Oseias e Amós, que denunciaram a opressão do pobre e a corrupção moral e espiritual, Miqueias reflete em seu texto os ecos dessas advertências proféticas. Anuncia que ele será a nossa paz. Não a paz instável das políticas estabelecidas por formas de governos. Nem a paz estabelecida por alianças espúrias, por conveniências de Estado.
Os magos, ao verem o menino deitado em uma manjedoura, se ajoelharam e o adoraram. Ora, não estavam ali nenhum sacerdote judaico, teólogo ou qualquer outro membro do alto escalão do império (que ao invés de reverenciar a criança, na verdade, a queriam matar). Mas sim, três homens estrangeiros, simples e não pertencentes à religião da época. Uma evidência contundente da manifestação universal de Deus, que age quando e onde quiser!
Oferecem os seus presentes ao menino Deus: Ouro - que representa a realeza de Jesus; Incenso - que significa a sua divindade e mirra - que simboliza não só a sua humanidade, mas também a sua predestinação: a paixão e morte na cruz!
Ao nos debruçarmos na meditação da narrativa, logo percebemos que não apenas no nascimento, mas todo o ministério de Jesus será feito pelas margens da sociedade, longe dos templos religiosos e dissociado do poder político da época. Nosso Deus mostra a sua face mais misericordiosa, na pessoa do seu filho humanamente encarnado.
Que nesse Natal, colhamos os frutos espirituais dessa festa linda, em que celebramos o mistério do nascimento de Cristo. Em um mundo beligerante, onde nações guerreiam contra outros povos, matando milhares de inocentes, clamamos também por paz.
Como disse o próprio profeta Miqueias, Jesus é a nossa paz e a nossa esperança por uma humanidade melhor, por um mundo onde as pessoas entendam o verdadeiro significado da palavra fraternidade.
Que o Senhor seja a esperança daqueles que perderam seus entes queridos, daqueles que não tem o pão em suas mesas e nem a liberdade de celebrarem em paz esse dia tão especial para a comunidade universal; que Jesus visite os doentes nos hospitais, os idosos em solidão e os lares despedaçados.
Celebremos com nossas famílias as festas de ano novo em clima de comunhão e respeito. Que um novo ano seja construído a partir de nós. Que ingressemos em 2025 com espírito e mente renovados, pois um novo ano, também requer uma nova pessoa.
A todos e a todas, a minha bênção fraternal!
+ Reverendo Antonio Silva
Pastor Líder da Comunidade Evangélica Hesed