Afinal, Deus é ou não, culpado pelos males que assolam o mundo?

Estimados irmãos e irmãs em Cristo!

Tenho a impressão de que os anos passam, mas parece que a sociedade tropeça nas mesmas pedras. Guerras, fome, injustiças sociais... Tudo indica serem problemas persistentes. Afinal de contas, não precisa ser nenhum doutor em história para comprovar. Existem desde que o mundo é mundo!

Na época em que lecionava Ciências da Religião, em um colégio católico de uma das cidades por onde morei, um aluno me questionou em sala: "Professor, se Deus existe, por que as pessoas ainda sofrem tantos males?".

A pergunta não era meramente especulativa. Obviamente, estava carregada por uma inquietação existencial, muito comum na mente de um adolescente com ânsias de revolucionário.

O desafio de ter de explicar algo tão complexo em meros 45 minutos de aula, sinceramente, me deixou desconfortável. Aquele garoto não cursara teologia ou ciências religiosas, mas denotava estar muito interessado em solver essa questão.

Ora, os males do mundo não foram criados por Deus, mas sim pelos seres humanos — Respondi. Prossegui com a explicação: A Bíblia fala que Deus entregou aos seres humanos um jardim incrível, repleto de riquezas e muita abundância. E, para concretizar o seu projeto criador, incumbiu o ser humano de administrar tudo aquilo e dar nome aos animais! A narrativa do Gênesis relata que Deus colocou o homem no centro do Éden (o que podemos interpretar como o momento de outorga do livre arbítrio) — assenti.

A partir da provocação sadia desse jovem, reflitamos... 

Se Deus criou os seres humanos para serem livres, por conseguinte, seria contraditório interferir nas escolhas da sua própria criatura. Sob o risco de negar-se a si! Portanto, as consequências decorrentes dos atos humanos, não é responsabilidade divina, mas sim da própria humanidade. 

Tomado pelo orgulho, pela ganância, pela inveja (veja a narrativa de Caim e Abel cf. Gn. Cap. 4), o ser humano se afastou do amor de Deus e, através do seu pecado, paulatinamente foi desfigurando o jardim que Deus lhe presentou. 

É importante ressaltar, que o livro do Gênesis fora escrito durante a diáspora do povo de Israel. Portanto, sua redação deixa implícita a sua finalidade pedagógica em educar a comunidade sobre a origem das coisas, sob a perspectiva monoteísta do judaísmo. Portanto, no Livro da Origem, Deus é o único Senhor e criador de tudo! É o Deus de Israel, povo que ele escolheu e tomou para si, mediante a fé de Abraão e de seus descendentes.

Dessa maneira, não seria sensato encarar o livro do Gênesis como um livro de história natural (ou mesmo científico, acerca da origem das coisas). Entretanto, a sua hermenêutica, nos permite alcançar significados espirituais muito importantes para a nossa vida.

Dentre as minhas críticas mais contumazes acerca do excesso de religião na mente das pessoas, está a questão do risco que ela representa quando associada ao poder político. Isso tem se consolidado de forma muito explícita ao longo dos séculos. Por exemplo, recentemente no Maranhão, uma deputada utilizou-se da Bíblia, para justificar o patriarcado em sessão na ALEMA, alusiva ao dia da família. Esse é só um, de muitos outros episódios!

Se no passado tanto o catolicismo, quanto o protestantismo cristão provocara muitas dissenções na história dos povos, hoje isso acontece de forma mais velada entre as denominações cristãs, porém, igualmente perverso. Outro caso: a disputa entre o Oriente e o Ocidente, envolvendo principalmente as Jihads islâmicas (guerras santas), indica um novo longo capítulo da história da humanidade.

O Apocalipse de São João, segue sendo muito atual, quando o assunto envolve as perseguições religiosas. 

Por outro lado, as comunidades evangélicas e neopentecostais estão infestadas por religiosos tendenciosos, que cooperam solidariamente para esse mecanismo nefasto, que estimula a discriminação (em todas as suas vertentes), a soberba e a devoção por dinheiro e poder. Muitos, inclusive, possuem compulsão persecutória.

É muito fácil escamotear interesses espúrios valendo-se de um discurso religioso, regado por pregações autoritárias em nome de Deus, em uma clara estratégia de deter o controle da mente das pessoas, através do medo e da culpa. Em contrapartida, essas lideranças são incapazes de viverem, nos bastidores da vida privada, uma vida digna e honesta, em consonância moral com aquilo que pregam. 

Eis a crise da religião cristã no Brasil! Em um cenário onde, o povo oprimido e laico, acorre a cultos onde a espetacularização da fé consiste em autêntica catarse para os problemas emocionais, muitos crentes são presas fáceis, devido à busca irresponsável por mascarar suas péssimas escolhas de vida, mediante doses elevadíssimas de religião.

A consciência das nossas imperfeições e a busca por uma vida mais virtuosa, só é possível mediante um movimento oposto: o cultivo da espiritualidade. Nessa perspectiva, o trabalho de libertação ocorre de dentro para fora. O que nos permite abrirmo-nos para a misericórdia de Deus (Hesed), que nos alcança não pelos próprios méritos, mas sim por graça. Primeiro precisamos nos transformar, para depois, transformarmos o mundo. Eis a grande diferença entre religião e espiritualidade!

Provavelmente temos em nós mais crenças religiosas do que espiritualidade. Por isso o mundo persiste em suas misérias. Resultando nesse alijamento da abundância e prosperidade divina. A religião infelizmente separa. Quem não é membro do nosso sistema, é falso [anátema] -  (a palavra grega diábolos [Διάβολος] = aquilo que separa), a espiritualidade integra, une (do grego 'simbolos' [Σύμβολα] = aquilo que une)

O dicionário Oxford, explica o significado do termo “facção” = grupo de indivíduos partidários de uma mesma causa em oposição à de outros grupos [No Império Romano, as facções formavam-se entre os lutadores de circo e seus respectivos torcedores; mais tarde, formaram-se entre diversos grupos da cidade e do campo que rivalizavam entre si; na modernidade, o termo passou a designar esp. cada grupo antagônico que disputa a supremacia política.]. Isso é completamente antagônico à oração de Jesus "Para que todos sejam UM, assim como eu sou uno com o PAI (João 17:21)"

Peçamos ao Espírito Santo, discernimento para distinguirmos o que é de Deus daquilo que é dos homens e oremos instantemente pela redenção do mundo!

Reverendo Antonio Silva

Sociólogo, Especialista em Ciências da Religião, 

com Extensão Acadêmica em Liderança Pastoral, pela UEMA.




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